Há lá coisa mais bonita do que, para começar uma semana de trabalho, ser-se assaltado?!
Hum, eu diria assim de repente e sem pensar muito, que até há!
Eu não gosto mesmo nada de assaltos e menos ainda quando a vítima sou eu – É assim algo que não me dá muito jeito, entendem?
É como ir na rua e de repente: “...aaaah porra, então vai-me assaltar agora, é?! Epaaaá, é que não vinha nada a contar com isso!... Sabe, é que até estou um bocadinho em cima da hora e tal e tal... e isso é coisa para demorar um bocadinho, não!?...”
Os assaltos são sempre coisas desagradáveis.
Aqui há dias, fui vítima de um outro. Na ocasião, o assalto foi levado a cabo por um radar no IC22, a via rápida da Costa. Ainda fui a tempo de olhar para trás e, no momento do flash, triunfalmente, esboçar um sorriso – só pró estilo, estão a ver. Só espero não ter ficado de olhos fechados.
Mas essa, não tinha sido a minha primeira vez.
A primeira, foi em Belém - tinha uns 19 anos - mas felizmente consegui fugir! No IC22, também... pelo menos não vieram atrás de mim. Ao que parece não terá sido preciso - a fotografia tinha ficado óptima!
Só que, desta vez a coisa não correu tão bem!
Era cedo.
Estava bem disposto, e tudo!
Fixe, hoje tenho tempo!
A2, 12km de bicha!
Porreira, ainda bem que vim de mota - a berma é sempre uma boa alternativa para fugir ao trânsito e para evitar aqueles condutores ensonados que fingem não nos ver ou que por nada facilitam a nossa passagem por entre os carros. Estes gajos de certeza que têm noção do que são 215kg de mota a passar no meio dos carros. Palhaços!
Vou pela berma! É mais seguro, pensei!
E fui...
...mandado parar!
O senhor era gordo – muito gordo mesmo, daqueles que só conseguem ver que são mesmo homens ao olharem pelo espelho – falava ashim - não percebi se por ser lá de cima ou das ilhas, ou se tinha efectivamente graves problemas de dicção, mas na dúvida, escolho a 1ª – e cheirava a vinho que era uma coisa parva...
Ora, bons deiash!
Estamo’jaqui a fajer uma operachão... os xeus documeintos e os da biatura!
Dei-lhe os documentos para a mão – BI, carta de condução e documento único – o tal que é livrete e registo de propriedade simultaneamente – enquanto apreciava o cenário à minha volta.
Paradas na berma, estavam mais 15 motas. Todas, ali, pelo mesmo motivo ou infracção (dependendo de como queriram chamar) – circularem, na berma de uma A.E. completamente congestionada com 12 Km de bicha!
Quem mal é que isso tem, pergunto eu!?
Inspeccionou a documentação e disse: “...Ora, ixo dá direito a uma coima de xhexhenta eurus!...” – Sim, o senhor era daqueles que dizia eurus com “u” no final, e pelo sorrisinho de parvo que esboçava enquanto falava, e que lhe deixava ver a caixilharia toda fodida, estaria certamente a pensar “...vá, paga e não bufa! É que está quase a chegar o Natal e blá, blá, blá...”
Virou costas e foi-se enfiar dentro de um dos 4 carros da polícia que estavam ali preparados para o que desse e viesse.
Ainda em cima da mota, de capacete e óculos escuros postos, deixei-me ficar!
Quando voltou, cerca de 15 minutos depois, já vinha com a papelada toda preenchida.
Depois, foram só mais 20 minutos, à espera de uma vaga para pagar – os senhores agentes, tadinhos, não estavam à espera de tanta freguesia aquela hora e só tinham uma máquina POS.
Paguei e só depois de pagar – acho que depois de pagar eles já não me passavam mais nenhuma multa fosse por que motivo fosse – perguntei, em jeito de crítica?
Hoje deu-vos para isto, não é? – é a típica introdução do tipo: Tá frescote, e tal?!
Desculpe, mas se calhar não reparou que a mota pode nem ter seguro. É que não me lembro de lhe ter mostrado a carta verde...
Por outro lado, o selo – aquele papelinho que custa o olho do cú, e que é o único que querem ver quando se lembram da importância deste tipo de operações – tenho-o aqui! Quer dar uma vista de olhos?
Ah, e.... não sei mas, conseguiu reconhecer-me no BI? É que ainda nem tirei os óculos escuros e o capacete? Até podia ter-lhe mostrado o BI da minha avó – assim, como assim, ela também tem um certo buço que lhe dá alguma parecença com esta minha barba de 2 semanas...
A isto, o senhor apenas respondeu: “...pois, tem rajão...”
Eu sei que tenho, mas preferia não ter!
Despediu-se com um "Boa viagem", a fazer lembrar o "Deus te acompanhe" que o padre profere quando os pecadores saiem do confecionário.
Tive vontade de o mandar pr'aquilo que ele não vê há muito tempo e de lhe dizer: Óh sócio – sócio dá sempre aquele toque pintarolas que o senhor de certeza estaria habituado – Call Me When You're Sober!